Eu estava concluindo uma compra na drogaria, quando uma atende chegou da
rua justificando para os colegas a razão do seu atraso. Um motoqueiro (ou
motociclista?) havia sofrido um acidente, indo a óbito. As cinco pessoas que
estavam ouvindo ficaram sensibilizadas com a tragédia. Enquanto lamentávamos o
ocorrido, repentinamente uma senhora, possivelmente com uns 75 anos, lúcida,
fez o seguinte comentário: "O espelho retrovisor do meu carro, lado
esquerdo, está quebrado por causa de um deles!" Um breve silêncio...
A caixa, o atendente e eu nos olhamos com se fossemos conhecidos. Até que eu
ousei e rompi o constrangimento, dizendo: " Um espelho é mais importante
que uma vida?" O atendente responde "nem todos acham isso" com
um sorriso discreto. A caixa sorri espontaneamente parecendo estar
aliviada com o meu comentário. A senhora, é claro, não queria ouvir opinião
contrária a sua. Virou as costas e continuou as suas compras.
Tenho refletido sobre o valor da vida. A senhora mencionada acima,
claramente valorizou mais o retrovisor do seu carro. Para mim soou como um
"bem feito" quando ela ouviu que "um deles" havia morrido.
Precisamos exercitar o respeito ao ser humano. Não devemos olhar para o outro
dizendo "bem feito" o tempo todo. Se o motorista quer estacionar, ele
para onde quiser, bem feito para o pedestre que não tem carro; se a pessoa
humilde mora longe e precisa pegar a condução pública lotada, os
administradores públicos parecem pensar "quem manda morar tão
longe"; as pessoas estão hospitalizadas, solitárias e desesperadas,
lamentasse mais não há tempo para fazer visitas, pois as atividades pessoais
são mais importantes; se a pessoa precisa de oportunidade para ter uma vida
digna, desconfiasse da intenção e da persistência que terá, então é melhor não
investir na recuperação social.
A vida é dom de Deus, é uma dádiva. Vamos retribuir esse amor ao Senhor,
amando ao próximo, respeitando-o, tendo consideração e dedicação ao ser humano. Exercitemos a cidadania e a civilidade.
